segunda-feira, 29 de junho de 2015

Quando o telefone de um emigrante toca

Depois de praticamente 10 meses longe do meu país e dos meus, chegou finalmente a altura de escrever sobre isto que é “ser emigrante”. Demorou até entranhar esta ideia, de que saí do meu país sem data prevista para voltar, de que fugi do que tinha (ou não tinha) para procurar algo melhor a 3000 km de distância.

Não me arrependo. Estou certo de que sair de Portugal foi a melhor decisão que tomei na minha vida, não só por ter sido fundamental para me voltar a sentir “eu”, como também em termos profissionais. O meu país fechou-me demasiadas portas, teimou em mostrar-me que aquela certeza que eu tinha, de que “para os melhores há sempre lugar”, mais não é que uma fancy phrase.

Um dia, provavelmente, irei voltar para lá…. Ou talvez não. Se houve tempos em que ficava reticente com a ideia de sair de Portugal, agora fico reticente com a ideia de regressar. Estou, e isto tem-se vindo a tornar mais forte com o passar dos dias, chateado com esse país. Mas pronto, um dia isto passará.

E isto de “ser emigrante” é, acima de todas as descrições possíveis, um misto de sensações. Por um lado tive a coragem de virar as costas a tudo e vir para o outro lado da Europa, sem qualquer garantia de que me iria adaptar. Por outro, tenho a minha vida toda a mais de 3000km de distância, ou pelo menos aquela que era a minha vida.

Mas aquilo que me custa mais nisto de estar longe é aquela aflição que toma conta de mim cada vez que o telemóvel toca. Ao início era inconsciente e nem me dei conta do que significava, agora percebi. Cada vez que ouço o início do toque de chamada fico com o coração nas mãos, literalmente. O mundo cai-me aos pés e fico paralisado por segundos antes de reagir. Porquê? Por medo. Medo que chegue uma má notícia, medo de ser obrigado a correr para o aeroporto e a comprar o primeiro bilhete de avião para Portugal, medo que tudo desmorone…

Esta é, indubitavelmente, a pior coisa de ser emigrante e uma sobre as quais não tenho qualquer controlo, o que a torna ainda mais insuportável. Resta-me esperar que o telemóvel toque poucas vezes e que não toque nunca para confirmar o desmoronamento do mundo que venho a construir.

Outra coisa sobre ser emigrante e, mais concretamente, sobre sê-lo na Roménia, é que ao contrário de países como a França ou a Suíça, aqui a comunidade portuguesa é mínima. Não vejo isto como algo mau, até pelo contrário, uma vez que se se está no estrangeiro, convém fazer a vida como um, mas a experiência é totalmente diferente daquela de que maior parte dos portugueses tem por este mundo fora.

Por último, falando no país que me acolheu, tenho pena que maior parte das pessoas não faça ideia do que é a Roménia. Fiquem com este vídeo para contemplarem só um pouco do que este país tem para oferecer:

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